Cientistas dos EUA analisaram 123 indivíduos sobre comportamento online.
Prática virtual tem valor de ‘entretenimento’ para alguns participantes.
A forma como as pessoas expressam raiva via internet e o impacto emocional de extravasar esse sentimento foram tema de dois estudos feitos pela Universidade de Wisconsin, nos EUA. Os resultados apontam que escrever ou ler comentários irados em sites de notícias, redes sociais, fóruns de discussão ou blogs não é uma prática saudável, e quem faz isso com frequência se torna mais nervoso, frustrado e com um estilo de vida menos ajustado que o normal.
Além disso, esse hábito está associado a mudanças negativas de humor, cuja causa estaria no conteúdo dos discursos “inflamados”. As conclusões foram publicadas na edição de fevereiro da revista científica “Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking”.
A primeira pesquisa, coordenada por Ryan Martin, do Departamento de Desenvolvimento Humano da universidade, identificou os benefícios de ler e publicar textos violentos sobre diferentes tópicos. Ao todo, foram avaliadas 32 pessoas (21 homens e 11 mulheres), entre 14 e 54 anos, em relação ao tempo que elas passavam nos sites e por que os visitavam (curiosidade, entretenimento, senso de comunidade ou forma de comparação com os outros).
Segundo os autores, todos os participantes declararam que se sentiram mais calmos ou relaxados imediatamente após manifestar o que sentiam. Mas, apesar dessa suposta função “terapêutica”, os mesmos indivíduos apresentavam mais traços de raiva que o normal e expressavam o sentimento de forma mais desajustada.
Eles também vivenciavam as consequências de uma raiva frequente, com quase uma luta física e mais de duas discussões verbais por mês. Cerca de um terço dos participantes ainda acreditava que tinham algum problema de raiva, e quase metade já tinha ouvido reclamação de alguém sobre isso.
O segundo trabalho realizado em Wisconsin, por Kelsey Coyier, Leah VanSistine e Kelly Schroeder, do Departamento de Psicologia, analisou em 91 pessoas (62 mulheres e 29 homens), com idade média de 19 anos, os efeitos imediatos de escrever e ler textos violentos. Ao contrário das experiências relatadas no primeiro estudo, esses participantes se mostraram mais tristes após a leitura. Quando escreveram, também se sentiram menos felizes e mais irritados.
Por outro lado, os voluntários que postaram seus textos em algum site não tiveram a alegria tão reduzida. E aqueles que voltaram ao endereço eletrônico por conta própria experimentaram um aumento no nível de felicidade enquanto liam os textos, o que sugere um valor de “entretenimento” para alguns participantes.
Anonimato
O que os pesquisadores ainda não sabem é por que algumas pessoas acham esses sites – que incluem palavrões, ofensas e ameaças explícitas – divertidos, enquanto outras não. Segundo os autores, estudos futuros podem se centrar no papel do anonimato na hora de exteriorizar os sentimentos.
De acordo com o primeiro trabalho, a maioria dos participantes (67%) indicou que publicaria comentários violentos mesmo se precisasse se identificar. No entanto, uma revisão de literatura sobre o anonimato na internet feita em 2007 pela pesquisadora Kimberly Christopherson aponta que o anonimato influencia o modo como as pessoas se comunicam online. Ou seja, fornecer nome e e-mail verdadeiros poderia realmente mudar a forma como os indivíduos manifestam a raiva no mundo virtual.
G1