Tolerância e sintomas depressivos: por Dr. Marcelo Bremm

A palavra tolerância significa “suportar”, “aceitar” ou simplesmente “dobrar-se a algo cuja ocorrência não se pode mudar ou impedir”. A capacidade de tolerância aos mais variados aspectos da vida cotidiana pode estar tremendamente prejudicada em indivíduos que apresentam sintomas depressivos.

A observação de pessoas com quem se tem contato familiar ou profissional, ou até mesmo de pessoas com as quais se tem contato por acaso, evidencia que algumas delas demonstram irritação com facilidade. São indivíduos que se sentem provocados diante de estressores mínimos, demonstrando, na maioria das vezes, exagero na reação emocional.

Outro aspecto que chama a atenção é que muitas pessoas apresentam baixa capacidade na realização de tarefas que por si só não trazem satisfação, tais como fazer compras em um supermercado ou pagar conta em um banco. Quando submetidas a situações adversas, como mudanças no trabalho ou na vida financeira, não aceitam a nova condição e entram em desespero mesmo antes de tentarem se adaptar ou de melhor verificar o que realmente está acontecendo.

A capacidade de tolerância é de extrema valia. Com ela, amizades são cultivadas e não são provocadas inimizade. A tolerância por si só é garantidora de maior estabilidade, à medida que torna possível a evitação de reações intensas a estímulos de desconfortos cotidianos.

Sabe-se que o grau de tolerância de um mesmo indivíduo pode mudar de tempos em tempos, de acordo com sua saúde emocional. De forma geral, a tolerância é um dos primeiros aspectos afetados pelos sintomas depressivos.

Com a intensificação de sintomas, o deprimido vai apresentando um viés de pensamento, passando a questionar “o porquê de tudo”, “qual o resultado que obterá com as ações de hoje a longo prazo”. Com isso, deixa de realizar tarefas cotidianas e simples, o que lhe provoca sofrimento e desânimo acrescido da sensação de fracasso, porque, no fundo, sabe que as deveria efetivar, uma vez que todos o fazem com facilidade.

A intolerância vai aumentando e cada vez mais atividades vão sendo deixadas de lado. Primeiro as mais monótonas, em seguida aquelas que eram consideradas prazerosas, como viajar, ir à casa de familiares, frequentar encontros de amigos.

A partir do momento em que atividades prazerosas são deixadas de lado, a intolerância encontra-se em seu ápice e seguramente passa a ser causa e conseqüência dos sintomas depressivos.

O cultivo gradual e a reaquisição da capacidade de tolerância constituem aspectos importantes e necessários para o paciente depressivo. A partir disso, o indivíduo poderá retomar suas atividades, facilitando, assim, a melhora em médio prazo.

Dr. Marcelo Bremm

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