Tratar é mais importante que rotular! Por Dr. Marcelo Bremm

O diagnóstico, em medicina, é fundamental para que se estabeleçam medidas capazes de levar ao controle de situações de desregulação orgânica, comuns principalmente nas doenças clínicas. Inicia-se com a busca de sinais e sintomas que podem apontar para um conjunto de doenças possivelmente envolvidas com determinada situação.

A psiquiatra, como área médica, não foge a esta regra. No entanto, necessário salientar algumas peculiaridades dessa especialidade. Na psiquiatria, são comuns alterações de abordagens terapêuticas durante o próprio tratamento. Muitas vezes, são necessárias mais de uma avaliação a fim de que seja possível aproximar-se do “melhor diagnóstico”.

O estabelecimento de um diagnóstico rígido pode levar, especialmente na psiquiatria, a uma espécie de “rotulagem” do indivíduo nos exatos termos de uma determinada doença. Deve-se, no entanto, considerar que, na vida real, muitos pacientes preenchem critérios determinantes de mais de um diagnóstico, situação comum nas alterações de estados emocionais. Isso sem falar que algumas síndromes têm fronteiras indistintas e obscurecem umas as outras. E daí, qual rótulo usar? Seria o paciente depressivo? Ansioso? Fóbico? Obsessivo? E se tiver sintomas que remetam a todos esses diagnósticos?

Com certeza, são os pacientes e familiares os mais preocupados com a necessidade de estabelecimento de um diagnóstico já na primeira avaliação. O médico psiquiatra experiente, com o intuito de auxiliar seu paciente, deverá entendê-lo em seu todo, respeitando a provável e comum transição de sintomas, bem como das doenças psiquiátricas. O emocional é formado por uma mistura de características ansiosas, depressivas, eufóricas, de desconfiança, de impulsividade e de tantos outros sentimentos que compõem o psíquico do ser humano. Fique claro que esses aspectos comuns começam a se transformar em doença à medida que um deles torna-se francamente preponderante e passa a acarretar problemas ao indivíduo, à família ou à sociedade.

Cabe ressaltar que é comum os familiares e os pacientes chegarem ao consultório com diagnósticos prontos: dotados de pouca base técnica e de muito envolvimento emocional,  portando anotações de sinais sugeridos superficialmente por amigos, trazendo informações obtidas em revistas e/ou  na internet. A situação fica mais complexa quando insistem em tais convicções e solicitam ao profissional que prove que não possuem tal doença.

Evidente que o psiquiatra, como qualquer médico, durante entrevista psiquiátrica está buscando sinais e sintomas indicativos da doença que está por trás do sofrimento emocional. Nesse sentido, o profissional deverá conduzir a entrevista, com a ajuda do paciente, para que ela seja produtiva e aponte aos aspectos que possam ser corrigidos através do manejo verbal ou com o uso de medicação.

De qualquer forma, não se deve rotular pacientes. Assim, sugere-se aos pacientes, familiares e amigos envolvidos que não insistam em tentar provar na consulta a existência de um diagnóstico fechado. Que não cheguem a consultório querendo sair de lá com o nome da doença psiquiátrica da qual sofrem ou da qual sofre algum familiar, tais como depressão, bipolaridade, hiperatividade, crises de pânico e outras tantas doenças psiquiátricas.

O psiquiatra deverá saber reunir as informações necessárias para o início do tratamento. O autodiagnostico geralmente é infrutífero e deve sempre ser desencorajado, principalmente na psiquiatria.

Dr. Marcelo Bremm

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