Desde seu nascimento o ser humano é colocado à prova em relação a sua capacidade de adaptação. O parto, por vezes complicado, causa estresse no bebê prestes a nascer. Logo após o nascimento o mesmo é submetido a diferentes estímulos antes atenuados pela proteção intra-uterina.
Nos primeiros anos de vida há uma extrema fragilidade própria da espécie humana. Devemos lembrar que o ser humano, diferentemente dos outros animais, nasce sem saber se alimentar, caminhar ou se defender dos menores perigos. Toda essa fragilidade é compensada pela proteção intensiva dos pais e principalmente da mãe cuidadora.
Nosso cérebro ainda está em desenvolvimento quando nascemos e não apresentamos capacidades de interação social que nos garantam confiança na sobrevivência física ou emocional. Através daqueles que nos cuidam e nos protegem nas primeiras fases de vida surgem os primeiros laços afetivos. Tais relações são baseadas na necessidade de segurança e proteção. Com tais pessoas (geralmente pais) formamos laços que perduram por longos anos de nossas vidas.
No decorrer do ciclo vital existe uma tendência natural, após principalmente a puberdade, de afastamento das figuras parentais e busca de novas relações fora de casa, através de amizades, trabalho e namoro. Aos poucos se estabelecem novos vínculos. Não existe substituição, mas ocorre simplesmente a transição para uma nova fase do ciclo vital. De filhos passamos ao papel de pai ou mãe.
Pessoas que tiveram vínculos afetivos sentidos como inseguros na primeira infância tendem a apresentar mecanismos psicológicos primitivos baseados principalmente na desconfiança afetiva. Daí advém uma das origens de sintomas depressivos na fase adulta.
A instabilidade do ambiente em que a criança é criada, com brigas e conflitos entre os adultos, acarreta também dificuldade futura no controle da ansiedade.
Pela teoria do comportamento do apego, é normal que à medida que a criança cresce, ela progressivamente afastasse da “figura de apego primária” – pais ou cuidadores, e aventurasse a ir cada vez mais distante dos mesmos. Quando a criança sente-se ameaçada retorna em busca de apoio e segurança. Com bom cuidado recebido nos primeiros anos de vida, o individuo acaba sendo no futuro um adulto capaz de ajudar e também se sentir merecedor da ajuda dos outros.
Deve-se ter em mente a extrema importância dos cuidados recebidos nos primeiros anos de vida e que desses cuidados dependerá em grande parte nossa capacidade de sentir empatia e segurança nos vínculos afetivos na vida adulta.
Vínculos afetivos instáveis possibilitam adultos que resistem a contatos afetivos mais próximos por medo e sensação de prejuízo afetivo.
O objetivo do comportamento do apego é manter um laço afetivo “seguro”. Situações que colocam em risco tal segurança afetiva levam a sensação de desespero, raiva ou perda de controle. Surgem nesses momentos sensações primitivas sentidas também pelo bebê, que é o completo desamparo e sensação de aniquilação.
Através do entendimento dessas sensações compreendemos os sentimentos profundos de pessoas em que ocorre a perda de entes queridos por falecimento ou por afastamento motivados por separações conjugais.
Dr. Marcelo Bremm