Ciúmes: do normal ao patológico por Dr. Marcelo Bremm

Consultas que envolvem indivíduos que sofrem com término de relacionamentos ou ainda por dificuldade de manter laços afetivos, tendo como causa principal ciúmes em excesso, fazem parte do cotidiano de consultórios psiquiátricos.

O ciúme poderá ocorrer em diferentes tipos de vínculos. Citam-se ciúmes entre irmãos pelo amor dos pais, ciúmes entre amigos, ciúmes do parceiro afetivo, além de muitos demonstrarem ciúmes de seus objetos ou situações (casa, carro,emprego).

Todas essas formas de ciúmes, por mais diferentes que possam parecer, compartilham de aspectos que vão além do “amor” e advêm do próprio individuo “ciumento” e que surgem muitas vezes desde a infância.

Um aspecto primordial para entendermos o ciúme e suas origens é compreendermos o comportamento de apego. Ele é definido como qualquer forma de conduta em que uma pessoa tenta alcançar e manter a proximidade com algum outro individuo, considerado mais apto para lidar com o mundo. Na primeira infância esse comportamento é direcionado para cuidadores, principalmente a mãe. Na idade adulta essa energia e necessidade poderão ser direcionadas para a “pessoa amada”. No relacionamento afetivo do casal poderá surgir medo infantil de ser abandonado, sem o qual pode ter-se a sensação de desespero completo por sentir-se só.

Em suma, ciúme advém do medo de perder uma situação aparentemente segura, seja ela afetiva, social, econômica e etc. O ciúme em si não é patológico e poderá representar em sua origem amor.

O problema surge quando o ciúme sai de controle, no momento em que a pessoa que ama coloca todas as suas possibilidades de vida atual e futura na necessidade de manutenção do vinculo com aquele que é amado. Dessa forma, cria-se muitas vezes uma situação insegura: “como se poderá ter certeza que a pessoa que é amada não encontrará alguém mais bonito, inteligente, mais bem sucedido economicamente?”. Essas perguntas deixam claro o desespero do “ciumento” e quanto susceptível e inseguro ele se sente em relação ao seu próprio futuro.

Com a eminência do término do relacionamento, muitas pessoas poderão experimentar uma diminuição da autoestima, a partir do que surgem sentimentos de raiva, ódio e inveja. Quando o ciúme transforma-se em inveja, o amor deixa de estar em primeiro plano. Aquele que inveja poderá não hesitar em destruir o “sujeito amado”, daí surgem muitas vezes crimes passionais que são acionados por esse sentimento ruim. O cimento protege quem ama, enquanto aquele que inveja sente-se roubado emocionalmente. Crimes passionais podem estar associados a doenças psiquiátricas que poderiam ter sido tratadas.

Fique claro que o amor comanda o ciúme na imensa maioria dos casos e que muitos aceitarão términos de relacionamentos afetivos apesar do sofrimento inicial. Respeitarão o livre arbítrio daquele que decidiu tomar outro rumo em relação a sua vida afetiva, passado aquele primeiro momento de desespero e desesperança.

O ciúme deverá ser tratado toda vez que começa a atrapalhar o próprio relacionamento que esta tentando se manter. Por traz do ciúme, geralmente, estão sintomas depressivos, ansiosos e de desconfiança do próprio indivíduo.

Interessante é constatar que muitos indivíduos consultam por desespero no término de um relacionamento e que, alguns anos depois, estão consultando novamente pelo mesmo motivo e nem lembram direito daquele outro vínculo que tiveram anos antes.

Dr. Marcelo Bremm

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