Criamos desde nosso nascimento estratégias psicológicas básicas de sobrevivência. Com laços iniciais com nossos cuidadores buscamos suprir a necessidade de segurança e proteção. Formar laços com pessoas significativas é considerado normal e saudável, independente em qual estágio do ciclo vital que se esta, desde o nascimento até a morte.
A perda afetiva levará ao Luto, que de certa forma faz parte da reação normal à ausência da pessoa que se ama. O luto representa psicologicamente a saída do estado de saúde para um estado de instabilidade e insegurança psicológica. Necessita-se de um tempo para que a pessoa que sofreu a perda afetiva retorne ao estado de equilíbrio afetivo.
Um dos primeiros aspectos para que se consiga se recuperar da perda afetiva é aceitar o fato ocorrido. Como lidar com impacto da perda à medida que não aceitamos a mesma? Realmente este é um aspecto básico para que se possa avançar no Luto e um dia chegar a sua elaboração completa. Pessoas que preservam o ambiente do ente falecido (quarto por ex.), como se ele estivesse prestes a retornar a qualquer momento, não conseguiram elaborar o Luto e provavelmente trancarão suas vidas afetivas. Poderão sentir todos os dias como se fosse aquele dia fatídico do falecimento. Não sobrará espaço emocional para valorização da própria vida e de outros familiares.
Sentir a dor da perda, que inclui o desconforto físico e emocional, é um direito que deve ser respeitado para que o luto se resolva. Evitar tal dor poderá prolongar o tempo do luto. Este sentimento deverá ser vivenciado e aqueles que tentam evitar os sentimentos negativos da perda tendem a futuros sentimentos depressivos ou ansiosos com elaboração inadequado do luto.
À medida que se entende que a pessoa falecida não voltará mais e dando-se o direito de sofrer temporariamente com a perda. Avança-se para a necessidade de adaptação da vida sem a presença daquele. Novas tarefas deverão ser desempenhadas e outras serão abandonadas. Devemos observar que muitos familiares dedicam um tempo exaustivo nos cuidados de familiar adoentado e após falecimento poderá surgir sentimento de inutilidade ou fracasso. Um pai ou mãe frente ao falecimento de um filho terá que se reorganizar já que muitas vezes o grande sentido de suas vidas talvez fosse ver o filho crescer, trabalhar ou ter filhos. O que ocupará estes “espaços vazios”? Se não ocorrer o redirecionamento de papeis e significados de vida, não ocorrerá a adaptação à perda e consequentemente a não elaboração do luto.
Na última etapa da elaboração do Luto aquele que perdeu o ente querido se dá conta que deverá continuar vivendo apesar do amor que tem pela pessoa ausente. O espaço afetivo daquela pessoa ninguém ocupará.
Por outro lado, quem consegue resolver o luto continuará sua vida e novos “espaços afetivos” poderão surgir apesar do sofrimento pelo falecimento. Infelizmente, muitas pessoas resolvem não amar mais ninguém e viver em luto pelo resto da vida. Será que a pessoa que se foi, gostaria que sua mãe, pai, filho,esposo ou esposa vivesse o resto da vida em sofrimento? Certamente não, e por isso, apesar do sofrimento pela perda deverá haver esforço para manter-se vivo afetivamente. Continuar vivendo talvez seja a forma mais adequada de se respeitar o amor pelo ente querido falecido.
Dr. Marcelo Bremm