Depressão e suas origens por Dr Marcelo Bremm

A compreensão das causas da depressão é buscada há séculos. As explicações foram mudando de acordo com a evolução do conhecimento humano. Essa é a talvez a mais familiar de todas as doenças psiquiátricas e da qual, mesmo antes do surgimento da palavra depressão, o ser humano já sofria, denominando de “uma dor que atacava sua alma e o fazia desistir de continuar vivendo”.

Num primeiro momento da história humana, tentou-se explicar os sintomas depressivos como algo relacionada à “fúria dos deuses”. Estranha pode parecer hoje tal explicação, mas é necessário entender que, naquele momento, o conhecimento iniciava sua longa trajetória até os dias de hoje.

Posteriormente, por volta do século cinco antes de Cristo, surge a medicina. Com Hipócrates, considerado o pai da medicina, o cérebro é eleito o centro das emoções humanas. Antes disso o coração era considerado a “casa dos sentimentos”. Com as teorias de Hipócrates, a doença passa a ser materializada, surgindo o conhecimento de que é causada pelo desequilíbrio de “fluidos corporais”. Dá-se um passo importante para a substituição da superstição pela biologia. Surgem os primeiros tratamentos que davam importância ao retorno da saúde do corpo para melhora da mente. Certos tratamentos daquela época são recomendados ainda hoje, tais como plantas fototerápicas (ex.: beladona), hidroterapia, massagens e caminhadas.

            Essa tentativa rudimentar de ciência, na Idade Média, mergulha novamente em aspectos exclusivamente espirituais, ou seja, depressão, ansiedade ou outras doenças mentais passam a ser explicadas como o resultado “do pecado, da influência de bruxas ou demônios”. Nesse momento, as causas da depressão ficaram relacionadas ao “mal” e foram muitas vezes tratadas com a tortura ou a morte de seus infelizes portadores.

            Com o fim da Idade Média, surge aos poucos a visão atual, em que o “cérebro começa ser encarado como órgão responsável pelos sentidos e emoções”.  Dessa forma, desregulações do cérebro podem levar o indivíduo à doença mental. Partindo deste ponto, começa-se a pensar que o uso de medicamentos pode restabelecer o bom funcionamento mental.

            Apesar de se saber que o manejo fisiológico do cérebro com medicamentos poderia amenizar doenças mentais, somente na década de 1950 começaram a ser utilizados os primeiros antidepressivos. Nas décadas seguintes, passaram a ser melhor entendidos o funcionamento cerebral e os neurotransmissores envolvidos na depressão. Hoje se sabe que o comportamento e os sintomas depressivos são influenciados por diferentes neurotransmissores (serotonina, noradrenalina e outros).

            O relatado permite apontar, a seguir, os aspectos mais importantes que podem estar relacionadas com a origem dos sintomas depressivos.

            Experiências negativas na infância, como perda precoce de pais, ambiente familiar negativo e instável predispõem à depressão.

            Sabe-se que acontecimentos da vida como morte ou perda de pessoa amada podem desencadear evento depressivo.

            A predisposição genética, ou seja, ter familiar com sintomas depressivos aumenta a chance de quadro depressivo futuro. Sempre se deve lembrar que a genética é um dos aspectos que aumenta a possibilidade de evento depressivo, mas que não é fator obrigatório para a ocorrência de episódio depressivo.

            A vida em ambiente de convívio social e familiar negativo em que não ocorrem reforços positivos predispõe à visão pessimista. O indivíduo acaba tendo tendência para distorcer experiências para o lado negativo, trazendo para si responsabilidades de fracassos que não dependeram dele. Esses aspectos de como devemos ver as coisas dependem muitas vezes do ensinamento dos pais para os filhos.

            Constitui fator de risco para a depressão a personalidade mais insegura, preocupada e introvertida. Em outro extremo, personalidade com tendência obsessiva, ou seja, perfeccionista, dominadora e rígida, também representa risco aumentado para a depressão.

            De qualquer forma, sabe-se que cada caso deve ser avaliado de modo único, cabendo ao profissional de saúde mental integrar todo esse conhecimento e, a partir daí, utiliza-lo para o paciente que está a sua frente.

            Dr. Marcelo Bremm

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