Conversando sobre Depressão:
Dentre todos os temas da saúde mental, a depressão, com certeza, figura como o de maior vulto e interesse, tanto do ponto de vista dos médicos como da população em geral. Está presente em conversas de família, de amigos ou de vizinhos.
Sobre ela todos opinam como “especialistas”. Nestas “avaliações”, aqueles que sofrem com seus sintomas tentam explicar o que sentem. No entanto, na maioria das vezes, a depressão não pode ser explicada por palavras, uma vez que traduz sentimentos e sensações difusas. A dor sempre é mais forte naquele que a sente; assim, como explicar uma dor se o outro que escuta ainda não a experimentou?
Por parte daqueles que inocentemente tentam ajudar os deprimidos surgem recomendações entranhas aos ouvidos dos depressivos. Suas recomendações constituem-se muitas vezes em orientações para sair mais, passear, praticar esportes, ou seja, aproveitar a vida.
Nesta conversa estranha cada um fala uma língua diferente.
O depressivo tenta, exaustivamente, explicar seus sintomas e comprovar seu sofrimento, esforçando-se para que o outro o veja como real e não como mera invenção de sua mente. Tenta, desesperadamente, convencer o outro de que a depressão existe.
Já o outro, ouvinte – que a princípio apresenta boa saúde psíquica – tenta convencer o depressivo de que realmente depressão é mera falta de movimentação do corpo e da mente.
Esse debate nunca se exaure e, ao final da conversa, o depressivo encontra-se triste por não ter sido compreendido, e aquele que tentou ajudar também não resta satisfeito porque percebe que suas idéias “ótimas” não serão colocadas em prática.
De tudo isso, conclui-se pela necessidade de cautela frente à discussão de um assunto profundo e complicado como a depressão, suas causas, formas de tratamento e maneiras de ajudar aqueles que sofrem desta doença.
É necessário encarar o Transtorno Depressivo como doença. Patologia esta que precisa ser tratada com medicamento e apoio psicoterápico. Soluções simplistas ou meras opiniões levam ao desgaste e ao agravamento da própria doença.
Em um episódio depressivo, o indivíduo perde a capacidade de sentir prazer. A tristeza pode passar a ser o sentimento preponderante na vida emocional. É comum o depressivo cansar-se com facilidade, até mesmo por causa de esforços leves. O deprimido não vai querer ou poder curtir a vida neste momento. A propósito, se pudesse sair por ai aproveitando a vida não estaria depressivo.
Ao deprimido recomenda-se cautela ao tentar explicar seus sintomas. Recomenda-se que não tente convencer o outro acerca da existência da depressão, pois isso determinará mais desgaste e sofrimento. Cabe ao indivíduo respeitar o que está sentindo e seguir o tratamento de acordo com a orientação médica e psicológica. Ao perceber alguma melhora, ai sim deverá, aos poucos, experimentar sair de casa e continuar a vida, ciente de que, mesmo com a dificuldade inicial, a tendência é melhorar, reaparecendo, gradativamente, o prazer pelas atividades cotidianas.
Ao familiar, sugere-se que, mesmo não entendendo o que é depressão, acompanhe o tratamento e respeite o tempo certo para que ocorra a melhora e o retorno à vida normal.
Em próximos momentos, tentaremos esclarecer melhor as causas, sintomas, tratamento e conseqüências dos transtornos depressivos, que figura como um dos tópicos mais importantes da psiquiatria atual.
Dr. Marcelo Bremm