Desatenção e Hiperatividade por Dr. Marcelo Bremm

Baseado nos conceitos acima, inicia-se aqui uma importante discussão que envolve um assunto obrigatório de debate entre pais, educadores, médicos e estudantes: a intrigante dificuldade observada na aprendizagem, e a tentativa de elucidação do que poderia estar por trás, de comportamentos “indesejados”, capazes de levar indivíduos (crianças, jovens e adultos) sem déficit de inteligência a um baixo rendimento escolar e acadêmico.

Assim, fundamental o entendimento e a diferenciação entre desatenção e hiperatividade.

A atenção é fundamental no processo de aprendizagem, pois é com ela que são focalizados e selecionados diferentes estímulos.        Depois da observação, vem a integração do conhecimento, o qual é guardado na memória para ser, posteriormente, usado em novos processos de aprendizagem. Com a diminuição da atenção, a memória passa a ser fugaz e, consequentemente, o cometimento de erros passa a ser freqüente.

O desatento parece, muitas vezes, estar no “mundo da lua”. Sintomas clássicos da desatenção são, por exemplo, sair de casa para comprar algo e esquecer exatamente o que iria fazer; perder-se no que iria dizer durante uma conversa cotidiana; na leitura de um livro, ao chegar ao meio de uma página, esquecer do que recém foi lido. A desatenção é responsável por erros tolos, que o estudante comete em matérias que ele seguramente domina.

A hiperatividade, por sua vez, envolve aspectos físicos e psíquicos. A pessoa hiperativa é inquieta, mantendo o corpo quase sempre em movimento, tem dificuldade de permanecer sentada e de realizar atividades que exijam ficar parada. Mexe-se na cadeira ou balança as mãos, os pés ou qualquer parte do corpo, como se estivesse sempre procurando a posição ideal. Geralmente, é falante e tem dificuldade de esperar sua vez para se manifestar (costuma se atravessar nas conversas dos outros ou responder antes de ser questionada). As crianças hiperativas envolvem-se em brincadeiras agitadas, dificilmente se interessam por brincadeiras quietas. Têm dificuldade para ler um livro ou assistir um filme completo.

Todos esses aspectos acima discutidos, quando manifestados em certa medida, são comuns. No entanto, no momento em que aparecem com freqüência, tipicamente desde infância, causando transtornos recorrentes e prejuízo, principalmente na aprendizagem, podem significar a presença de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDHA).

Importante levar em consideração o fato de que desatenção e hiperatividade não são características exclusivas do TDHA e que diferentes alterações psiquiátricas podem causar esses sintomas, principalmente quadros depressivo-ansiosos.

Debate-se atualmente acerca da possibilidade de este transtorno estar sendo “superdiagnosticado”, ou seja, estar sendo identificado de forma exagerada. Assim, o profissional médico precisa estar atento à necessidade de avaliação psiquiátrica geral, não podendo apenas focalizar queixas de desatenção e hiperatividade. Por outro lado, o paciente com esse diagnóstico deverá observar se, durante a avaliação, o profissional inquiriu acerca de aspectos da sua saúde mental.

Na psiquiatria deve-se atentar para avaliação global e não apenas a sintomas específicos. O autodiagnóstico deverá sempre ser desencorajado.

Dr. Marcelo Bremm

 

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