Existe uma confusão normal inicial entre os termos mente e cérebro. Os dois, apesar de estreitamente integrados, não representam o mesmo conceito. Essa confusão ocorre porque quando nos referimos a eles estamos dando forma ao nosso emocional. Além disso, seu conjunto garante nossa identidade e o modo com que nos relacionamos com o mundo. A integração de ambos traz como resultado o funcionamento mental.
A mente representa o “self emocional”, “quem somos”, ou como podemos descrever a sensação de identidade. A mente é a expressão do funcionamento do cérebro. O cérebro, por outro lado, é a casa da mente, o órgão físico do emocional.
A integração mente e cérebro ocorre a todo o momento. Experiências traumáticas continuadas influenciam no funcionamento normal do cérebro, na capacidade de memória e cognição em geral, determinam alterações de conexões cerebrais.
Examinemos a situação de um indivíduo que fica submetido a sofrimento emocional continuado dentro da sua casa ou que sofre um trauma. Sabe-se que nessas situações o cérebro terá alterações secundárias, perdendo ou diminuindo suas capacidades de funcionamento. Situações traumáticas modificam nosso cérebro. Já em outra situação, como a de um indivíduo que esteja vivendo normalmente, apresentando perfeitas capacidades mentais, e vem a sofrer um acidente vascular cerebral, haverá mudança no seu jeito de ser. Estando seu cérebro doente, ocorrerá perda parcial da forma de ver as coisas, de sentir, de se comportar socialmente, o que talvez modifique sua personalidade.
Danos ao tecido cerebral podem causar regressão psicológica, um retorno a estágios anteriores de desenvolvimento psicológico. O que afeta o cérebro afeta a mente. Dai entendemos o porquê de situações de regressão de funcionamento comportamental e psicológico de pacientes que sofreram lesão cerebral.
Pacientes, frente a agravos cerebrais agudos apresentam sofrimento psíquico à medida que notam suas dificuldades mentais. Costumam ficar irritados, desanimados e nervosos. Restringem sua vida a situações cotidianas para evitar exposição social. Sua conduta poder ser “infantil”, explosiva, negando qualquer limitação.
Em situações em que as perdas de capacidades mentais ocorrem de forma progressiva, como nos casos de demência, os pacientes conseguem manter suas atividades de forma cada vez mais simples, começam a ter vida básica e restrita ao domicilio e, aos poucos, vão se afastando de atividades sociais que antes lhe causavam satisfação. Ficam mais indiferentes e apáticos. Numa fase mais acentuada, esses mesmos pacientes apresentam mecanismos de defesa psicológica mais primitivos, como “negação” e “projeção”, e acabam acusando os outros por situações causadas pela dificuldade de memória. Daí se faz possível entender o porquê da desconfiança frente a familiares e amigos comumente apresentada nos quadros demências. Fique claro que esse não é um processo mental consciente do paciente e sim forma de defesa, de não sucumbir a um dos maiores temores do ser humano que é sentir, que está perdendo suas capacidades mentais.
A avaliação com Psiquiatra é fundamental para garantir que a família e o paciente se adaptem a uma nova realidade de funcionamento mental.
Marcelo S.Bremm
Médico psiquiatra
Cremesc 10379