Constitui-se preocupação constante naqueles que procuram avaliação psiquiátrica, a necessidade de definição de diagnóstico e muitos querem sair da consulta com a resposta a sua pergunta chave: “sou depressivo ou ansioso?”. Atrás deste aparentemente simples questionamento existe debate entre muitos psiquiatras se podemos separar de forma clara e definitiva os diagnósticos de depressão e ansiedade.
Sintomas ansiosos se caracterizam, entre outros, por inquietação física, sensação de angustia, sudorese, taquicardia, mal estar, sensação de pressentimento de que algo esta para acontecer. Com ansiedade forte, perde-se temporariamente a capacidade de ouvir, entender ou memorizar o que está sendo dito. Quadros agudos de ansiedade pode trazer sensação de morte eminente, medo de perder o controle ou enlouquecer. A ansiedade mesmo em níveis altos acaba, muitas vezes, sendo tolerada e assumida por alguns indivíduos como uma característica de personalidade.
Em contraparte sintomas depressivos clássicos envolvem alterações principalmente afetivas. Humor depressivo, irritabilidade, desânimo, tristeza, dificuldade de sentir prazer em atividades cotidianas e de lazer, desinteresse, desmotivação e baixa energia constitui-se em aspectos depressivos.
Uma observação cotidiana em consultórios psiquiátricos é que ambos os grupos de sintomatologia são comuns a imensa maioria dos pacientes que buscam tratamento. Dessa forma, caberá ao psiquiatra estabelecer a história prévia de funcionamento mental do paciente. Existe uma relação entre depressão e ansiedade e muitos pacientes podem inclusive suscitar a possibilidade de ambas patologias.
Sabemos que muitos pacientes que chegaram ao consultório com sintomas depressivos importantes, eram em sua origem ansiosos e que não tiveram tratamento adequado ou, mais comumente, pacientes ansiosos que só procuraram tratamento quando se confrontaram com sintomas depressivos.
É fácil entendermos porque os ansiosos acabam “transformando-se em depressivos”, à medida que a ansiedade acentua-se esses mesmos pacientes deixam de realizar suas atividades cotidianas, sentindo-se
perdidos e desorganizados. O ansioso tende a ter uma busca continua de controle de aspectos da vida cotidiana de si próprio e de sua família, e com a perda deste controle aparente, advém a frustração e diminuição de autoestima. A sobrecarga emocional a que são submetidos por longo período também é aspecto importante na transição dos sintomas ansiosos para a depressão.
Por outro lado, sabe-se que pacientes primariamente deprimidos tem pouca possibilidade de desenvolvem sintomas ansiosos importantes.
Outra situação que fala a favor da possiblidade de depressão e ansiedade terem origem e muitas características em comum é que medicamentos antidepressivos são os remédios de escolha para tratamento da imensa maioria das doenças psiquiátricas ansiosas, como por ex, transtorno do pânico, transtorno de ansiedade generalizada, fobia social, estresse pós-traumático e etc.
Dessa forma, ansiedade e depressão se encontram desde seus sintomas até o tratamento, sendo que muitas vezes o mesmo paciente poderá ter critérios de ambos diagnósticos.
A definição de quem surgiu primeiro, ansiedade ou depressão, é importante na sequência do tratamento para propormos mudanças de funcionamento emocional. Os ansiosos infelizmente retornam, muitas vezes, para o mesmo nível de funcionamento psicológico “controlador com medos e dúvidas” pré-doença, quando melhoram da depressão. Tais pacientes devem ser alertados que isso poderá ser fator para novos episódios depressivos. Por outro lado, para depressivos devemos propor alterações nas percepções errôneas que a depressão induz principalmente no que tange a desconfiança afetiva.
Por Dr. Marcelo Bremm