Pacientes depressivos comumente apresentam queixas que envolvem dificuldades de memória, de atenção em atividades cotidianas, de raciocínio ou de associação de pensamentos anteriormente realizados com facilidade; referem, ainda, “perderem-se nas palavras” quando durante uma conversa. Ou seja, é comum que, juntamente com a depressão, surjam dificuldades na aquisição e processamento de conhecimentos.
Durante um episódio depressivo, verifica-se uma lentificação de todos os processos psíquicos, com comprometimento mais marcado da atenção, da memória e do curso do pensamento. Esses aspectos estão interligados intimamente: com a diminuição da atenção (por exemplo, redução na capacidade de concentração para leitura, para assistir filme, ou aula), as informações a que o indivíduo está exposto não serão armazenadas. Assim, referências de dificuldade de memória e esquecimentos frequentes passam a constituir queixa comum de pacientes depressivos.
Muitas vezes, pacientes depressivos manifestam respostas curtas e evasivas. Tem-se a nítida percepção de que tentam escapar ou apresentam muita dificuldade para manter uma simples conversa cotidiana.
Outro aspecto bastante importante está no fato de que a depressão pode determinar seletividade da memória. O deprimido tende a interpretar de forma exageradamente negativa suas experiências, principalmente aquelas que envolvem perdas ou frustrações. Acaba, aos poucos, sem se dar conta, tendo uma visão distorcida em relação à autoimagem (ao seu próprio ser), ao mundo que lhe rodeia e ao futuro. Por mais estranho que possa parecer, o deprimido tende a ter melhor memória para eventos negativos do que positivos. E quanto mais recorda fatores negativos, mais fica agravada essa distorção, ou seja, a vida poderá parecer, aos seus olhos, “um mar de tristezas”.
Necessário lembrar que o “pensamento depressivo” não é realizado conscientemente pelo paciente, mas vai se mostrando de forma natural com a evolução da doença. É preciso aguardar o tempo certo para que o próprio paciente vá melhorando e se dando conta de que o futuro pode ser bom e que, talvez, o presente não esteja tão ruim como imagina.
As percepções negativas de “mundo” e “vida” acabam tendo importante papel no início e, posteriormente, na manutenção da depressão.
Deve ser dada atenção especial à tendência de algumas pessoas no sentido de buscar aspectos negativos de si mesmas, de familiares e da vida como um todo. Esses indivíduos podem apresentar predisposição para sintomas depressivos futuros ou sintomas depressivos leves (que talvez passem despercebidos).
Observa-se que, mesmo com o tratamento e a melhora de sintomas depressivos, poderá haver sequelas cognitivas (memória, pensamento, etc.) após uma crise depressiva. Daí a importância de esclarecer que o não tratamento da depressão e de outras doenças psiquiátricas, poderá sujeitar o paciente à diminuição das capacidades mentais no presente e no futuro.
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Dr. Marcelo Bremm