A dor é definida como uma experiência sensorial e emocional de desprazer ou desconforto. A queixa de dor é uma forma de expressão do sofrimento ou da condição física a que o corpo está sendo submetido. A intensidade da sensação que leva à percepção da dor difere de uma pessoa para outra. Vários aspectos podem exercer influência direta na percepção da dor. Citam-se, dentre eles, idade, sexo, maturidade emocional e padrões culturais. Estresse, alterações de cunho financeiro, conflitos no trabalho e problemas familiares também são fatores importantes no que tange à capacidade de sentir e tolerar o desconforto.
Nesse mesmo contexto, deve ser esclarecida a importante relação/influência da depressão e de outras doenças psiquiátricas sobre a geração e a acentuação da dor. O paciente com dor crônica sente-se, por vezes, inferiorizado em relação a outras pessoas, em face da dependência e limitação que sua condição provoca, gerando dificuldades no desempenho de atividades cotidianas. Vai acumulando perdas de cunho financeiro, familiar e social, de forma que resulta afetada sua própria expectativa de futuro. O agravamento e a cronificação da dor torna cada vez mais próximos os sintomas depressivos. A depressão, por sua vez, interfere na capacidade de resistência à própria dor e acentua, em muito, a sensibilidade dolorosa. São comuns casos em que indivíduos apresentam grandes restrições associadas à dor, sendo que os exames clínicos e laboratoriais indicam pequenas ou moderadas alterações físicas. Sabe-se, ainda, que é possível a distorção na interpretação de sensações corporais normais, levando o paciente deprimido a senti-las como evidência de doença física. Em consultório de psiquiatria, os tipos de dor mais frequentes e associadas com aspectos emocionais são as torácicas, pélvicas (ginecológicas e urológicas), lombares e, principalmente, a fibromialgia. Dentre essas, merece atenção especial a fibromialgia, caracterizada por dores osteomusculares, cuja evolução provoca prejuízos funcional e emocional. Esta doença está intimamente ligada à fadiga crônica, aos distúrbios do sono, à depressão e à ansiedade. É comum os pacientes se assustarem quando médicos clínicos solicitam ou recomendam que consultem com psiquiatra. Essa necessidade de avaliação é explicada justamente pelo exposto neste texto. Ademais, não se deve pensar que o tratamento da depressão ou da ansiedade permite ou obrigue o abandono do tratamento da dor em si e dos aspectos físicos possíveis causadores iniciais da dor. Não há necessidade e nem se recomenda definir, em pacientes com dor crônica de difícil manejo, se foram sintomas físicos ou psiquiátricos os provocadores do início do processo doloroso. Ambos os aspectos devem ser considerados, a fim de que seja possível o alcance do resultado mais satisfatório no manejo da dor. Importante esclarecer que, em meio ao arsenal de medicamentos voltados à terapêutica da depressão e da ansiedade, existem alguns com capacidade de facilitar o tratamento da dor. Por fim, frisa-se que a associação de dores crônicas com sintomas emocionais não permite subentender que tais dores seriam “inventadas”. A intensidade da dor é subjetiva e cada indivíduo deverá ser respeitado no que se refere à forma e à relevância da dor por ele referida.
Dr. Marcelo Bremm