O transtorno afetivo bipolar é um dos temas psiquiátricos mais debatidos. Tal “popularidade” surgiu à medida que personalidades importantes no mundo científico, político e principalmente artístico foram diagnosticadas com tal transtorno. Com a divulgação na mídia de que alternâncias do humor, impulsividade, irritabilidade, gastos excessivos e comportamentos extravagantes pudessem ser sintomas de bipolaridade, tal doença começou a ser aventada por pessoas que tentam entender o motivo de suas atitudes exageradas. Nesta doença, o aspecto principal está na alteração de humor e/ou de afeto, com variação desde sintomas depressivos (com ou sem ansiedade) até episódios de euforia. O indivíduo bipolar grave apresenta, como parte de seus sintomas, variação entre dois polos: desde a tristeza extrema, em que não tem energia para nada; até a euforia, situação em que tem a impressão de que pode tudo e de que nada afetará sua energia. Observa-se que mesmo um paciente depressivo de longa data poderá ser diagnosticado como bipolar se tiver pelo menos uma crise de (euforia) mania ou hipomania. No estado de euforia, dificilmente um paciente bipolar procura auxílio médico. Só o fará se “obrigado” por familiares ou amigos preocupados com suas atitudes exageradas e intempestivas. Naturalmente, deve perguntar a si mesmo: “se estou bem, por que devo consultar?” “Será que essas pessoas que me evam ao consultório estão com inveja de mim e da minha energia?” Essa última indagação torna evidente que, à medida que a “crise eufórica” evolui, vai surgindo outro sintoma importante, que é a desconfiança. Paralelamente à acentuação da crise bipolar, aos poucos, a energia vai reduzindo e o paciente começa se aproximar dos sintomas depressivos. E é justamente na fase depressiva que a maioria dos pacientes procura ajuda médica pela primeira vez. Terminada a fase eufórica e penetrando na fase depressiva, o paciente irá, infelizmente, pagar durante meses por todo o excesso de energia utilizado em poucos dias ou semanas.
A fase depressiva é geralmente grave. É capaz de levar o indivíduo à completa falta de vontade e à perda generalizada de prazer.
A pessoa acometida pode deixar de se alimentar e de realizar as mínimas atividades cotidianas. No ponto, frisa-se uma característica importante na diferenciação entre bipolares e depressivos puros: bipolares têm excesso de sono na fase depressiva; já na depressão unipolar geralmente ocorre insônia de difícil manejo. Iniciado o tratamento, deverá ser esclarecido ao paciente que a energia que vinha sentindo era exagerada e seria humanamente impossível mantê-la por muito tempo. É necessária a busca de um equilíbrio, o que se faz possível com o uso de estabilizadores de humor, atentando-se ao fato de que antidepressivos podem empurrar os indivíduos novamente para euforia. Daí a imprescindibilidade de diferenciação entre depressão na bipolaridade e depressão unipolar. Apesar de os indivíduos bipolares apresentarem capacidades muitas vezes acima da média, a estabilização do humor deve ser sempre buscada no Transtorno Afetivo Bipolar. Essa estabilização é fundamental para a boa qualidade de vida emocional, social e econômica de seus portadores, caso contrário, serão indivíduos de altos e baixos, com dificuldades de consolidação de “alicerces de vida”.
Dr. Marcelo Bremm