Situações emocionais podem levar ao desenvolvimento de queixas físicas. Nos transtornos de somatização essa integração, muitas vezes, passa despercebida. Ou seja, iniciam-se com os mais diversos sintomas, como dor de cabeça, dores pelo corpo, dores no peito, sensação de falta de ar, sintomas gastrointestinais (diarréia, constipação, enjôos ou vômitos), fraqueza muscular. Esses sintomas levam inúmeras pessoas aos consultórios médicos clínicos e, em sua maioria, não são demonstrados pelos exames, culminando em um diagnóstico intrigante: “nada foi constatado do ponto de vista físico médico”.
A existência de sintomas desprovidos de um diagnóstico médico determina, ao paciente, o início de uma série de dúvidas: “meus exames estão corretos? Devo procurar outro especialista? Como posso sentir este desconforto e não ter nada?”.
Diante dessas dúvidas parece vir uma resposta imediata: “se sinto algo e não existe exame com alteração suficiente para explicar o que estou sentindo, devo repetir os exames e procurar outro médico”. O desespero e o sofrimento emocionais aumentam à medida que, novamente, os exames resultam negativos para doença física. Fica a pergunta: “será que estou com uma doença grave, pois são muitos os sintomas? Será que sofro de uma doença rara, que os médicos não estão conseguindo diagnosticar?”
Nesses casos, exames e avaliações médicas são repetidos e nada é constatado. O especialista (cardiologista, neurologista, pneumologista…) sugere, então, avaliação psiquiátrica. Para muitos pacientes isso é recebido e sentido como uma forma de agressão, uma vez que sentem a impressão errônea de que o médico está querendo lhe dizer que tudo o que tem é meramente “coisa da cabeça”.
Na verdade, o encaminhamento para o Médico Psiquiatra devido a queixas físicas traz à tona a necessidade de o paciente observar melhor suas emoções, bem como a constatação de que, por vezes, independentemente de ser homem, mulher, idoso ou criança, o indivíduo não consegue separar suas vivências emocionais de seu corpo físico. Em determinado momento, o corpo, sem nada perguntar à vontade consciente do indivíduo, começa a expressar o emocional e daí começam dores torácicas atípicas, faltas de ar (em que parece que o ar está preso no tórax, que levam os pacientes a suspirarem com freqüência). Ou seja, dificilmente um médico conseguiria explicar tais sintomas sem pelo menos desconfiar da interferência do emocional em um processo aparentemente físico.
Cabe ressaltar que, no caso de suspeita de transtorno de somatização, tanto o médico clínico como o psiquiatra, devem realizar exames para descartar doença física.
Outro aspecto importante é que não há consciência por parte do paciente acerca do que está ocorrendo e, realmente, ele está sentindo o que refere, sendo que a diferença com relação à doença física é que os exames são negativos. Afinal, “a emoção nem sempre respeita a razão”.
Em suma, devemos suspeitar de transtorno de somatização nos casos em que os sintomas não apresentam correspondência aos exames e avaliações médicas. Muitas vezes, os sintomas se deslocam para diferentes sistemas médicos não relacionados diretamente, por vezes associam-se dores pelo corpo, cefaléia, queixas respiratórias, gastrointestinais, cardiológicas, dermatológicas, e etc.
O não reconhecimento da patologia leva, por vezes, a visitas freqüentes a especialistas e à intensificação do sofrimento psíquico. O acompanhamento psiquiátrico é extremamente importante e ajuda o indivíduo a assumir novamente o controle de sua saúde física e mental.
Marcelo Bremm
Médico Psiquiatra
Cremesc 10379